A base dos relacionamentos abusivos consiste na premissa que tem sempre um outro que sabe o que eu não sei, que me dá a imagem do que eu deveria ser, do que eu deveria alcançar e saber. O outro é aquele que pode, sabe, “cuida”, manipula (referente às mãos). Ficamos, então, na posição de se deixar dominar, acreditar, pois em algum lugar do inconsciente infantil o outro sabe e não eu – bastante relacionado às experiências das relações bebê/criança – adulto e também com a cultura na qual estamos inseridos.
Supomos, então, que o outro ocupa o lugar do saber. Essa parte que tem dúvida, que está insegura, pois não sabe, mas o outro sim, aparece. O outro encontra esse “furo”, essa fragilidade, essa vulnerabilidade. Aí começa a relação de abuso ?
“Eu te humilho, porque vc é chata”; “Eu te bati, porque vc merece”.
E aí cola! A pessoa abusada começa a se questionar: “Onde foi que eu errei?” “O que será que eu fiz?” “Por que não sou o ideal?”” O que falta em mim?”” Por que o outro que é todo potente e todo o saber viu que sou falha?”
E conclui: “Ele tem razão, eu sou isso mesmo.”
Quais são as falas que você vai dizer para manter a pessoa no lugar de quem sabe, de quem pode? A relação de dependência desse outro é tamanha que em alguns casos vale tudo para deixar a pessoa nesse lugar, por mais abusos que esse outro tenha cometido. “A culpa é minha. Fui agredida, mas eu provoquei.” Afinal… “ele sabe, eu não”.
Por que abusamos de nós mesmos, nos deixando abusar? ?